22 novembro 2015

Antes dos 25



Escrevo ouvindo What’s Up da banda 4 Non Blondes  e me emociono com a letra, mas não deixo as lágrimas de gratidão caírem no meu café. O aroma preenche o meu quarto e fecho os olhos para inspirar esse momento.  O momento em que me despeço dos meus 24 anos.

Eu sei, quem faria um texto para despedir-se de uma idade? Eu. Eu faria. Estou fazendo. Aos quatorze anos, acreditei que jamais chegaria aos dezoito anos.  Achei que possuía a responsabilidade de preencher o vazio que a minha irmã deixou. Acreditei cegamente que era possível. Meu Deus, como eu estava enganada! Aos dezoito anos acreditava que não chegaria aos vinte anos. Sentia o mundo contra mim, sentia que não era aceita (por que as pessoas riam de mim no ensino médio? O que fiz para elas?), sentia que a minha existência era insignificante e realmente esquecia o quanto eu era importante e amada por meus pais e amigos. Aos dezoito anos eu continuava em busca do significado da vida. Uma busca perdida e desgastante. Uma busca inexistente.  Uma busca interrompida por não encontrar.

Aos vinte anos, achei que jamais passaria dos vinte e quatro anos. E foi no dois ponto zero que o meu universo mudou. Aos vinte eu experimentei o amor, experimentei orgasmos múltiplos, experimentei ser amada, elogiada, prender atenções ao contar histórias ou fazer comentários engraçados. Foi aos vinte que coloquei o meu coração em uma mala para entregá-lo em outro Estado.  Com vinte anos eu sentia que tinha o mundo em minhas mãos. E de certo modo, eu tinha. Eu me tinha, eu me permita. Vi amigos me traindo, vi alguns partindo, me vi como pilar mais resistente diante da vida e seus testes. E então, com um piscar de olhos, tudo mudou. TUDO. T – U – D – O . EU ME PERDI. ME ANULEI. E ANULEI OUTRAS PESSOAS DA MINHA VIDA. Com vinte e três anos perdi noites em claro ao tentar idealizar como seria se meus pais saíssem do piloto automático. Tentei imaginar a volta das pessoas que saíram da minha vida, tentei imaginar como seria se, aos vinte e três anos, o meu coração não estivesse quebrado. Não havia cola para esse tipo de restauração. Eu andava com um coração danificado e ninguém percebia. Eu deveria ter colocado com cuspe (acabei de pensar nesta possibilidade, mas já é tarde). Talvez desse certo. Pelo menos os envelopes de cartas ficam bem lacrados...

E com vinte e quatro anos chorei muitas vezes, fiz preces para que tudo ficasse bem, para prosseguir na “grande colina da esperança”. Foram tantas preces. “Hey, Deus o que está acontecendo?” E as respostas eram com o cri cri cri de grilos. Mais uma vez, pensei que  não passaria dos vinte e quatro anos. E então algo acontece, não com abóboras que viram carruagens ou roupas da Marisa que são transformadas em belos vestidos de época. O que ganhei se resume em uma frase: o poder de suportar e deixar-se ser acalentada por amigos. Prestes a completar vinte e cinco anos percebo o quanto sou grata por ter cicatrizes. Sou grata por tudo que conquistei, os amigos que cultivei e as gostosas gargalhadas que me presentearam. Não importa se completarei vinte cinco anos, não é o fim do mundo. É o rito de uma garota que transpira gratidão, é a despedida de um período mais complicado que equações. É o rito de passagem para o desconhecido.


Obrigada! A todos! A todos que torcem por mim e apoiam. Obrigada aos meus pais (momento de agradecimento no Programa do Faustão) que são tudo para mim. Obrigada a Camilla que me guia mesmo estando em outro plano. Obrigada aos leitores deste blog (sem as mensagens de vocês eu não conseguiria). Obrigada à Ciranda de Viados™, obrigada a Deus por ter criado Adam Levine e Adele, obrigada a quem inventou a cajuína, obrigada pelo Vendo Você Beijar Outras Bocas™ e a quem duvidou da minha capacidade. De coração, obrigada. É dançando em cacos de vidro que farei plié. 

15 novembro 2015

Umbuzada Sonora

Once Upon a Time (era uma vez em inglês), em um vale chamado “Vale do São Francisco”, um ‘BOSQUE’  conhecido por Juazeiro da Bahia. Juazeiro é uma cidade que transpira cultura, simpatia, ruas apertadas e festivais com música alternativa, folclórica e reggae. Bem, eu conheço apenas uma banda de Juazeiro. Ivete Sangalo é o nome da banda.

Deixando a brincadeira de lado, há bandas legais neste bosque encantado. Inclusive, tem um ano que passei a maior vergonha de todas as vidas ao conhecer uma banda juazeirense (leia-se Soda Solta). Estou me perguntando se a banda é de Juazeiro ou Petrolina, mas não importa... É farinha do mesmo saco. A diferença é que Petrolina tem Shopping e aeroporto. Mas Juazeiro ganha porque tem: I V E T E   S A N G A L O.  O assunto não é Petrolina versus Juazeiro, até porque não há rivalidade. Há amor. Eu nunca vi duas cidades tão maravilhosamente unidas e divididas por um rio e uma ponte.

O festival  ‘Umbuzada Sonora’ está em sua  edição, aconteceu na Arena do Centro de Cultura João Gilberto em Juazeiro. Em cada edição,  o festival, nos fornece música de qualidade, independente e visibilidade para as bandas locais. Fornece também decepção amorosa, TOUR VENDO VOCÊ BEIJAR OUTRAS BOCAS e uns héteros que de longe parece hétero e de perto fala “INHAÍ”. Acho que estou esquecendo algo, mas é mentira. A gente nunca esquece quando vai sensualizar para o  boy e a namorada chega reivindicando a boca dele. SIM! COMEÇA AGORA, MAIS UM TOUR VENDO VOCÊ BEIJAR A SUA NAMORADA SEM GRAÇA™.

 

Combinamos com um pedacinho da Ciranda de Viados para ir ao festival e esquecer as mazelas que há no mundo e país. É claro que gostosas gargalhadas estavam chegando, principalmente quando a gente decide fazer a competição do falsete e  som para na hora. Olha só que coisa linda. É claro que gostosas gargalhadas iria acontecer quando fico secando o vestido dos outros e passo a mensagem errada. Moça, calma. Eu só estava decorando o modelo do seu vestido para mandar a minha costureira, Cida, fazer igual. NÃO PRECISAVA PERGUNTAR SE EU QUERIA A BALA DA SUA BOCA.

 

Eu fico imaginando Deus, lá em cima, comendo pipoca e me assistindo passar vergonha sem piscar. “Agora eu vou fazer a menina oferecer bala a ela. Kkkkkkkk”. “Agora eu vou colocar aquele cara bonito, que eu fiz, perto de Calincka para ela sensualizar. KKKKKKK.” E foi assim, que eu me apaixonei pelo cara bonitinho da festa. Quando eu falo que vou ‘sensualizar’, não é colocar dedinho na boca, dançar até o chão, jogar o cabelo. Eu só arrumo a franja, olho se o batom está borrado, arrumo os peitos dentro do sutiã e... ENCARO A PESSOA. E FICO ALI ESPREMENDO OS OLHOS POR CAUSA DA MIOPIA ( QUE DÁ O EFEITO DE QUE EU ESTOU PAQUERANDO). E foi neste momento em que a namorada dele nos pegou quebrando o nono mandamento da Bíblia. Não cobiçarás a mulher do próximo ou o homem. MUITO FÁCIL PARA DEU ESCREVER ESSE MANDAMENTO EM DUAS TÁBUAS PORQUE ONDE ELE ESTÁ NÃO TEM FESTIVAIS, FACEBOOK, INSTAGRAM, ÔNIBUS, ADAM LEVINE...

 

Sim, a namorada viu e puxou ele pelo braço e saiu desfilando com ele na minha frente. OSTENTOU O BOY DELA. CADÊ O ARREBATAMENTO NESSAS HORAS? O que tinha de sem graça... Tinha de FUNK OSTENTAÇÃO. Faltou chegar a mim e dizer “miga, é meu”.  AAAAAAAH, MAS VALEU APENA VER QUE EU PELO MENOS FAÇO O EFEITO DE AMEAÇA. Uma professora minha e uma amiga ficaram dando gostosas gargalhadas da situação, mas eu superei porque às vezes Jesus se disfarça de boy acompanhado para testar a nossa fé.  E ainda bem que tinha algo me esperando em casa. NETFLIX.




08 novembro 2015

O eco do racismo


Maria Júlia Coutinho, ou mais conhecida como Maju Coutinho, é jornalista e apresentadora. Recebo Maju todos os dias na minha casa ao assistir, o principal telejornal brasileiro, o Jornal Nacional da Rede Globo. Quanta simpatia ao apresentar o clima nas principais cidades do País! Taís Araújo é atriz, também, da TV Globo. Cresci assistindo a atriz em diversas novelas e muitas vezes em horário nobre. Já torci por um final feliz para as mocinhas que a atriz interpretou.

O que a jornalista e a atriz possuem em comum? A pele negra? A beleza? A visibilidade? O sucesso?  O cabelo Black Power? Gostaria que esses fossem os únicos fatos em comum, mas não é. Em setembro Maju foi vítima de comentários racistas na internet. Alvo de pessoas preconceituosas e que acham que a sociedade brasileira é 90% branca, cabelos loiros escorridos e com olhos claros. Será que estudaram história ou acham que estão em outro país? Se o padrão de beleza que eles procuram no Brasil forem este, para eles, eu tenho uma má notícia!

No início de novembro, a atriz Taís Araújo foi hostilizada com comentários racistas ao atualizar a foto do seu perfil no facebook. Em um intervalo de quase três meses, duas pessoas públicas foram discriminadas por sua cor e cabelo. Como ousam dizer que não há racismo no Brasil? Como ousam dizer que é vitimismo? Todos os dias o negro é vítima de preconceito na entrevista de emprego, no trabalho, na escola, na moda, ao ser confundido como bandido porque estava segurando a mão de uma mulher branca, ao ver que apenas crianças brancas são adotadas e até mesmo ao ver que a Barbie negra é mais barata que a loira. Somos negros. Somos mulatos. Descendentes de índios. Somos a mais bela mistura, temos cabelos lindos, sorrisos convidativos e temos o olhar que carrega a esperança de que um dia reconheçam que a cor da pele e opção sexual não importa e não faz a diferença.

Ao ver internautas em defesa de Maju e Taís Araújo, acredito que estamos em progresso. Um progresso lento, mas significativo em comparação aos séculos passados. E espero que o respeito à igualdade torne-se um vírus e contamine toda a nossa sociedade para que nunca mais precisemos ouvir o eco do racismo.