24 março 2016

O Cirque du Soleil e a mídia

O Cirque du Soleil é uma companhia circense privada. Fundada em 1984 por dois artistas de rua, Guy Laliberté e Daniel Gauthier, a companhia apresenta espetáculos inovadores, performances com histórias que emocionam, além de despertar várias sensações, ao mesmo tempo, por todo o seu corpo e mente.

Está parecendo que eu já assisti a um espetáculo do Cirque du Soleil, mas  infelizmente eu nunca tive esta oportunidade ou sorte. A primeira vez que vi um vídeo mostrando trechos de várias performances da companhia me emocionei e lembro-me de pensar “meu Deus, nem forró eu sei dançar... Imagina fazer o que estes artistas fazem”. É, eu não sei dançar forró e não sei se este fato é bom ou ruim, mas vamos voltar a falar sobre o Cirque. Não há picadeiros e o grupo contém artistas de quarenta nacionalidades, a trupe possui belíssimas trilhas sonoras e algumas fantasias parecem ser tiradas dos contos de fadas. Cada espetáculo tem música ao vivo e te faz pensar “como seria se eu fizesse parte do espetáculo?”. Com certeza seria lindo. Viajar pelo mundo levando ALEGRIA.

Mas eu faço parte de um espetáculo que não é inovador, que explora a dor, a população carente e contam suas histórias como querem ao ponto de inverter e inventar, alienar aqueles que não possuem acesso a outras fontes de informações tornando-se, eternamente, manipulados. É o espetáculo da mídia. Percebo a todo o momento um picadeiro nos telejornais, as performances são de fazer você agradecer a Deus por não conhecer o artista performático que é treinado para te “informar” e fazer você acreditar.  Mas não se engane, eles são pagos para acreditarem também. Existe algo mais triste que receber dinheiro para acreditar em algo que não existe? É como ser paga para amar alguém que você nunca amaria.

É um espetáculo torturante e vergonhoso. Pobre por sua política interna, entediante ao perceber que as expressões no rosto dos performáticos da mídia querem convencer que a notícia é, em sua totalidade, verdadeira e que jamais seria alterada. Eu entendo estes “artistas”.  Há contas para pagar, impostos, filhos para sustentarem. São trapezistas e bailarinos do pior espetáculo que há, mas eles possuem escolhas. Todos possuem escolhas. Afinal, tivemos as mesmas disciplinas na graduação, ouvimos os professores criticarem afiadamente a manipulação e sensacionalismo nos meios de comunicação.


Eu sinto pelo ingresso que você paga para ser mal informado ou enganado. Eu sinto muito por cada notícia editada e com informações omitidas. Você jamais verá o que é um espetáculo de verdade até conhecer o Cirque Du Soleil.  E todos os dias você estará sendo massinha de modelar nas mãos da mídia. 

14 março 2016

O que restou de nós

Era uma paisagem que me fazia respirar com alívio. O ar tinha cheiro de terra, trazia ventos que brincavam com meus cabelos e arrepiava a minha pele. Aquele lugar tornou-se meu porto seguro mais rápido do que eu imaginava.  Mais rápido do que deveria.

Os abraços me envolvendo mostrava o quanto eu era querida ali. E por minutos, que pareciam horas, ficávamos abraçados olhando os morros e serras de Minas Gerais da sacada da silenciosa casa. A nossa bolha era impenetrável. Nenhum problema nos atingia quando estávamos juntos, mãos entrelaçadas, pernas misturadas e risadas que pareciam músicas. Ele possuía um lindo sorriso, as palavras sempre foram calculadas ou omitidas. Ele se comunicava com gestos.

A nossa comunicação acabou. Gestos não bastavam mais. Ele precisava de mais. Eu precisava de muito mais. Precisávamos do mundo. O mundo o ganhou, me senti uma perdedora. Fracassei. Ou a distância fracassou? O “para sempre” fracassou? Quem perdeu? Creio que  ambos ganharam.  Novas rotas, planos, sonhos, rotina, amigos, novos abraços e beijos. Não é preciso dizer que o amei e lembrarei-me da nossa bolha com um sorriso estampado e saudosamente. Mas eu não o conheço. Há tantas mudanças que o que amei não existe mais. Eu não o reconheço mais e isto é assustador e belo ao mesmo tempo.

Assustador porque entendo, hoje, que amei algo que não vive mais. Belo porque o que restou de nós ainda existe em forma de lembranças felizes, cartas, uma camisa surrada, livros e um urso. Superar não é se livrar das lembranças e presentes. Superar é olhar para o que restou e saber que há uma vida esperando por nós, um mundo nos chamando e outros lugares para serem definidos como um porto seguro. O que restou de nós não pode ser apagado porque faz parte do crescimento emocional, fez parte do meu grande e lindo percurso até aqui.


Eu ganhei. É, ganhamos. Eu ganhei um novo recomeço, novos amigos, eu tenho o mundo para conhecer, pessoas para encontrar e inspirar. E se você acha que nunca amará mais niguém... Engana-se, porque não podemos depositar tudo que temos em uma única pessoa, nunca conseguiremos. Amar transcende todos os limites. Ele encontrou outra garota e eu encontrei um novo recomeço. O recomeço que eu abracei e me entreguei, um oceano de possibilidades e surpresas me espera. Nos espera. 

01 março 2016

As tentativas

Antes de contar, quero que saibam que apaguei três vezes os parágrafos que digitei. Pergunto-me se isto, a minha história, vai me prejudicar profissionalmente ou amorosamente. Pensei bastante antes de escrever, mas preciso compartilhar. EU NÃO SEI. TALVEZ EU DEVESSE ESCREVER AS MATÉRIAS QUE MEU “CHEFY” MANDOU.

Já estamos aqui, não é? E eu sei que alguns amigos dirão que eu não deveria ter escrito, mas esta história faz parte de mim, ela será carregada comigo, me acompanhará como uma sombra. Eu nunca tive autoestima, desde a escola, nunca me achei bonita porque muitos não achavam. Não conseguia dizer uma qualidade sobre mim. Na verdade, eu não sabia que tinha qualidades. Todos os dias, por todos os anos na escola, eu levantava da cama e chorava no banho porque sabia que iria ser maltratada por colegas. Apelidos,  omissão de professores e coordenadores e humilhações faziam parte do meu cotidiano. Eu queria acabar com a tristeza que sentia, a dor, as vozes que repetiam o que nenhuma garota merece ouvir.

Eu tentei prosseguir, mas eu estava tão cansada. Eu só queria dormir. Se eu dormisse tudo se resolveria. As pessoas não precisariam ter pena de mim, me  humilhar ou me ignorar por não ser a mais bonita do colégio. Aos 13 anos eu tomei 27 comprimidos desconhecidos por mim. Eram comprimidos para dor que a minha irmã utilizava. Eu dormi, mas acordei depois  que  uma vizinha e minha mãe colocaram álcool no meu nariz. Inalei e chorei muito. Mainha se culpava, eu acordei mais triste. Aos 14 anos perdi minha irmã e tive que sobreviver com a tristeza e a dor da perda. Os planos de me curar da tristeza foram embora como ela.

No ensino médio me interessei por garotos que me fizeram virar “a escala de feiúra”. Eu era o termômetro que os meninos utilizavam para dizer se uma garota era bonita. Quantas vezes lanchei no banheiro? Todos os dias.  Quantas festas no colégio eu fui? Nenhuma. Quantas vezes eu pedia chorando a mainha para ficar em casa? Todos os dias. Mas eu não dizia o motivo, eu não podia medir a dor dela com a minha. Vivi no automático por mais sete anos, até me apaixonar. Entrei na faculdade, fiz amigos, namorei, era considerada engraçada, amiga, generosa... Com o término, eu voltei todas as casas do jogo e perdi a segurança que tinha conquistado. Eu voltei para o fundo do poço e ganhei cortes profundos nos pulsos. Mais uma vez, minha mãe estava lá para estancar o sangue e me assistir a levar 17 pontos no pulso esquerdo e 9 no direito.



Eu achava que morrer era a solução. Até conhecer uma ciranda de amigos (gays) que me fizeram ver o melhor de mim. ELES ACREDITAM EM MIM. APOSTAM EM MIM. APONTAM OS ERROS. ELOGIAM OS ACERTOS. PRECISAM DA MINHA ALEGRIA. Ele s ressuscitaram a minha alma, a minha alegria, a minha criatividade. Eles fazem parte das minhas orações e nem sabem que eu faço preces. Eu só posso dizer: obrigada.